Artigo Valentes|Unificar as lutas sociais é um desafio da atuação sindical

*Vera Lúcia da Silva Santos

Assim como todos os espaços em nossa sociedade, principalmente aqueles que refletem alguma forma de poder político, as mulheres enfrentam os desafios de lidar com o machismo. Para uma mulher negra, esse desafio é ainda maior, porque o racismo também é um problema estrutural no Brasil, refletindo as desigualdades de um país construído à base da escravização. Não é nada fácil assumir um cargo com visibilidade, considerando o tanto de preconceito que precisamos vencer em nossas jornadas.

São muitas as formas de disputar esses espaços e combater as suas contradições. Entre elas, tenho me dedicado à atuação no movimento sindical por entender que a luta da classe trabalhadora é fundamental para garantir justiça social. No sindicalismo, também procuro atuar defendendo as pautas do movimento negro e de mulheres, pois entendo que as diversas lutas estão relacionadas e precisam se fortalecer mutuamente.

A luta sindical, cada vez mais, precisa estar conectada aos desafios de nosso tempo e se colocar contra as muitas formas de preconceito e violência. É nesse espaço que podemos dialogar com trabalhadoras e trabalhadores sobre o quanto é prejudicial para a sociedade as práticas do racismo, do machismo, da xenofobia e da LGBTQIfobia.

No entanto, embora o sindicalismo seja um lugar que combate as diversas formas de opressão, também reflete os problemas gerais de nossa sociedade. Por isso, é importante que as mulheres trabalhadoras participem dos espaços de direção para fortalecer as discussões sobre gênero e raça que se entrelaçam com a luta de classes.

Essa compreensão, há muitos anos, mobiliza o Sindprevs/SC. Em 1999, fundamos o Núcleo de Gênero e Raça e, desde então, nos empenhamos em desenvolver campanhas e ações educativas que buscam combater os preconceitos, orientar práticas antirracistas e dialogar com trabalhadores e trabalhadoras do serviço público sobre os diversos impactos na vida das pessoas que sofrem com a violência de gênero e racial.

Uma das ações mais significativas que o Sindprevs/SC realiza é o Seminário de Gênero e Raça. Foram cinco edições em que buscamos não somente dialogar com a nossa categoria, mas também com os demais sindicatos e movimentos sociais. É um espaço de integração política, onde nos dedicamos a discutir as lutas conjuntas, com foco na luta de classes, mas também na luta antirracista e contra a violência de gênero.

Em 2017, o sindicato deu um passo importante nessa luta, quando fui eleita coordenadora geral da entidade. Uma mulher negra à frente de um sindicato com a história do Sindprevs/SC representa muito. É uma forma de fortalecer a integração das várias lutas sociais, mas também de garantir a representatividade das mulheres e das pessoas negras. Quando uma mulher negra assume um espaço de visibilidade e de ação política, ela se torna uma inspiração para outras mulheres e meninas negras que enfrentam todo o tipo de discriminação.

Desse modo, penso que estou contribuindo para as lutas da classe trabalhadora, mas não com um pensamento voltado apenas para os interesses imediatos da minha categoria. Estou atuando em favor dos direitos de diversas populações excluídas que merecem respeito e oportunidades.

À frente do Sindprevs/SC, tenho a preocupação de contribuir para que outros movimentos sociais se fortaleçam. Buscamos sempre participar das ações do movimento negro, de mulheres, da comunidade LGBTQIA+, das populações em situação de rua, de trabalhadores e trabalhadoras sem-terra e de todos os grupos sociais que buscam garantir direitos. A solidariedade de classe se reflete nessa capacidade de olhar com espírito de irmandade a todas e todos que querem construir um mundo mais justo.

A minha trajetória no sindicalismo sempre esteve ligada à minha luta para que mulheres trabalhadoras e a população negra pudessem avançar em suas pautas. Hoje penso que minha história fortalece as experiências de novas gerações de mulheres negras que buscam a representatividade para fortalecer suas próprias trajetórias.

Mais mulheres na vida sindical significa ampliar a participação da classe trabalhadora nas entidades que organizam a luta por direitos. Também modifica o sindicalismo com a pluralidade de ideias e de formas diferentes de ver o mundo. Defender mais mulheres em espaços de discussão política significa garantir equidade para que possam exercer sua participação, o que tem como consequência mais democracia e mais justiça social.

*Servidora aposentada do Ministério da Saúde em Santa Catarina. É coordenadora-geral do Sindprevs/SC. Integra o Núcleos de Gênero e Raça do Sindprevs/SC. É diretora na Fenasps (Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social).

PUBLICAÇÕES DA REVISTA VALENTE|

Esse artigo foi originalmente e de forma exclusiva produzida para a 6ª edição da Revista Valente. Para ler o artigo na revista ou ouvir o áudio texto, CLIQUE AQUI.


 

 

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