A vulnerabilidade dos trabalhadores, em especial dos imigrantes, a formas análogas à escravidão na América Latina será o tema de seminário sobre liberdade, precariedade e trabalho compulsório na contemporaneidade, promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina, hoje, 3 de novembro, às 18h30, via transmissão on-line.
O seminário faz parte do ciclo “Futuro do Trabalho: Perspectivas latino-americanas”, que tem o objetivo de discutir temas atuais relacionado ao trabalho na América latina com especialistas renomados do Brasil, Argentina, Uruguai e México e será mediado por Beatriz Mamigonian, professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A mesa de pesquisadores convidados será comporta pelo dr. Rafael Chambouleyron, professor no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, na Universidade Federal do Pará (UFPA); Gabriela Barretto de Sá, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Brasília (UNB) e pelo dr. Henrique Espada Lima, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Sob a perspectiva de trabalho precário, o dr. Henrique Espada – que desenvolve pesquisas sobre trajetórias de ex-escravos e trabalhadores domésticos – diz que o trabalho escravo contemporâneo acorre em contextos em que as proteções legais são insuficientes ou ineficazes. Segundo ele, nesses locais a pobreza associada as migrações forçadas por crises torna as pessoas mais vulneráveis à exploração extrema.
“É notável, por exemplo, que o trabalho análogo à escravidão possa acontecer dentro da cadeia produtiva de vários produtos do moderno capitalismo industrial. É perfeitamente possível em que uma ponta da cadeia produtiva, por exemplo, a produção de alumínio em uma moderna fábrica da Noruega que preza por suas práticas ecologicamente corretas, inclua, na outra ponta, o trabalho “escravo” na mineração em terras griladas em um lugar recôndito do Brasil”, aponta.
Espada diz ainda que essa exploração de mão-de-obra estrangeira é uma realidade também em ambientes urbanos. “A vulnerabilidade legal dos trabalhadores e trabalhadoras imigrantes – que pouco conhecem do idioma local, estão no país sem a documentação necessária, e que carecem de proteção da justiça – também permite que formas análogas à escravidão aconteçam em ambientes urbanos e em partes do país que não costumam ser associadas ao “arcaísmo”, como o caso das trabalhadoras latino-americanas nos “sweatshops” em São Paulo, ou dos haitianos na agroindústria em Santa Catarina, por exemplo”, conclui.
Transmissão e inscrição
O seminário será transmitido pelos canais do YouTube “Fazendo Escola” e do “Laboratório de Sociologia do Trabalho/UFSC”, com acesso público por tempo indeterminado. Após o seminário, os interessados em aprofundar os assuntos poderão participar de um debate em ambiente virtual. O link será divulgado durante o encontro.
O ciclo de seminários é realizado pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO), da UFSC, e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Trabalho Público e Sindicalismo (Fazendo Escola), vinculado ao Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (SINJUSC). Conta com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (SINTRAJUSC) e do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (SINDJUSRS).
Mediação e Conferencistas
Beatriz Mamigonian (Mediadora):
Doutora em História pela Universidade de Waterloo, no Canadá, Professora Titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisa História do Brasil (Império), História Moderna e Contemporânea (dentro dela História da Diáspora Africana e História da Escravidão Comparada), mais especificamente na abolição do tráfico de escravos e nas transformações da escravidão no século XIX.
Rafael Chambouleyron (Conferencista):
Doutor em História pela University of Cambridge (Inglaterra), Professor Associado no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Pesquisa História Social da Amazônia (século XVII e primeira metade do século XVIII), atuando principalmente nos seguintes temas: Território, ocupação e povoamento da Amazônia colonial; e Natureza, economia e trabalho na Amazônia colonial.
Gabriela Barretto de Sá (Conferencista):
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Brasília (UNB), realizou Doutorado Sanduíche no Population Studies Center/University of Pennsylvania (Estados Unidos). Desenvolve pesquisas sobre História Social da Escravidão, Direito à Memória, Feminismos Negros e Teoria Crítica da Raça.
Henrique Espada Lima (Conferencista):
Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Professor Associado do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desenvolve pesquisas relacionadas à história social do trabalho, experiências e trajetórias de ex-escravos e trabalhadores domésticos entre a escravidão e o pós-emancipação, bem como as relações históricas entre trabalho e lei no Atlântico.
Natália Paris