Sobre o 8 de março e por que as mulheres vão parar

Desconsideremos os fatores biológicos que colocam nossa existência como condição primeira para que haja vida uma vez não só não nascemos da costela de ninguém como também não há uma única vida humana que não tenha habitado um útero.

Façamos o exercício simples de imaginarmos uma sociedade desenvolvida sem as inúmeras contribuições anônimas de tantas mulheres em tantas áreas do saber? São tantas. É tão difícil nomina-las. E sabe porque? Porque quando falamos da história da contribuição das mulheres na sociedade estamos falando de uma história de exploração, resistência e invisibilidade. Estamos falando de metade da população do mundo sempre colocada em situação de vulnerabilidade por estados e modelos de sociedade que não nos entendem como cidadãs. Estamos falando de seres humanos com direitos limitados, que trabalham recebendo menos e que acumulam jornadas e funções. Que tem seus corpos e condutas julgados diuturnamente e que correm mais riscos de serem estupradas e mortas dentro de casa do que em qualquer lugar do mundo.

Como seria um mundo sem a arte de Frida Kahlo, sem vozes como Mercedes Sosa ou Maria Bethania? Como se escreveria a história da nossa região do país sem a coragem de Anita Garibaldi (a heroína de dois mundos)? Que mundo triste esse que não conheceria os versos de Cora Coralina? E a ciência sem Ada Lovelace ou Marie Curie?

Mas  a pergunta mais dolorosa é: quantos talentos assim nossa sociedade já sepultou?

Não há sociedade desenvolvida ou democrática se esta não respeita os direitos de metade de sua população, se objetifica os corpos de meninas e aceita que mulheres sejam assassinadas porque não querem mais estar em um relacionamento.

Quando dizemos nas chamadas às mobilizações do 8 de março que “se nossas vidas não importam produzam sem nós” queremos chamar a atenção de homens, mulheres e sobretudo de governos para o fato de que somos parte desse mundo do trabalho, somos parte do mundo todo e ele nos pertence tanto quanto pertence a qualquer homem. 

*Liliane Araújo é Comissária da Infância e Juventude na Comarca de Chapecó e também 1ª tesoureira do SINJUSC

 

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