Algumas reflexões a respeito da violência contra a mulher no Agosto Lilás

ARTIGO de Andréia Espíndola, Assistente Social Comarca de Palhoça

Em agosto de 2017 uma Juíza do Trabalho  foi morta pelo esposo, um delegado de polícia em SP.  Em dezembro do mesmo ano a imprensa noticiou que uma policial civil também havia sido morta pelo esposo em Balneário Camboriú/SC ( um policial militar)  Em abril de 2019 novamente no município de Balneário Camboriú uma advogada  foi  morta pelo namorado ( também um advogado).

Os dados acima registrados sinalizam que  educação formal, escolaridade elevada quer por  parte da vítima, quer por parte do agressor  não previnem violência doméstica.  Valores machistas ainda estão muito arraigados junto às famílias brasileiras e são repassados de geração em geração, infelizmente parece que sem maiores reflexões, criticidade.

As mulheres trabalhadoras do Poder do Poder Judiciário Catarinense também não estão imunes de  serem vítimas de violência doméstica, desta forma, muito importante o trabalho que o SINJUSC tem realizado através da promoção de Coletivos e Encontros de Mulheres, bem como da publicação da Revista Valente.

Nos últimos tempos  temos assistido a temática da violência doméstica ganhando bastante espaço nos meios de comunicação, muitos são os casos, eles aparecem quase que diariamente e infelizmente  aos montes. Indicativo de mulheres, de crianças e adolescentes, de famílias em sofrimento. Em casos de femininístico, muitas vezes na frente de filhos ainda pequenos  ou ainda seguido de suicídio do agressor maior é o sofrimento, as sequelas, as dores, os prejuízos para os envolvidos e para sociedade.

Parte dos  homens autores de violência doméstica contra a mulher possuem um “semblante que mascara”,  são profissionais bem conceituados, pessoas cordiais na vizinhança, no trabalho, no espaço público, sem antecedentes criminais, possuem uma identidade de “bons sujeitos”. Estes mesmos agressores perante autoridades desqualificam suas companheiras, esposas, lhes acusam de estarem “loucas”, desta forma,  não costuma ser fácil  para mulher comprovar as violências sofridas.

O medo, a vergonha e o isolamento social são fatores que dificultam a mulher de  procurar ajuda, contudo é preciso romper o silêncio, falar com alguém de confiança, se fortalecer para conseguir afastar-se de um relacionamento abusivo, tóxico.

A orientação da imprensa e dos órgãos estatais catarinenses  é que a mulher em situação de violência procure uma delegacia para realizar denúncia contudo com raras exceções ainda falta acolhida, privacidade quando do registro do Boletim de Ocorrência,  equipes interdisciplinares com psicólogos e assistentes sociais nas Delegacias e  nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, policiais com conhecimento aprofundado a respeito da Lei Maria da Penha e  com maior sensibilidade com a temática, bem como segurança para mulher nas dependências destas instituições (muitas vezes o agressor persegue a mulher que deseja realizar a denúncia até a delegacia…).

Os casos de violência contra a mulher são ainda mais  complexos quando envolvem filhos pequenos, direito de visitas. É uma seara muito delicada.

Profissionais da área da saúde explicam que o estresse crônico sofrido pela mulher exposta a situação de violência doméstica ocasiona a liberação de hormônios que prejudicam sua saúde física e mental. A violência também  deixa sequelas para a prole.

Políticas públicas de prevenção e proteção a mulher em situação de violência ainda precisam realizar muitos avanços, muitas são as lacunas, poucos são os recursos investidos na área contudo fico feliz quando a imprensa catarinense abre crescente  espaço para discutir o problema, fico  feliz ainda pela expansão da Rede Catarina de Proteção à Mulher da PMSC, pela consciência crescente por parte da sociedade da necessidade da criação de casas-abrigos, de grupos de reflexão para homens autores de violência doméstica ,  por estar sendo cogitada a possibilidade de criação de cotas de trabalho para mulheres em situação de violência em empresas,  pela ações da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar  do TJSC e ainda pela própria mobilização das mulheres em busca de seus direitos e de paz para viverem.

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