A desmemória. Uma crônica de Eduardo Galeano

Chicago está cheia de fábricas. Existem fábricas até no centro da cidade, ao redor de um dos edifícios mais altos do mundo. Chicago está cheia de fábricas, Chicago está cheia de operários.

Ao chegar ao bairro de Heymarket, peço aos meus amigos que me mostrem o lugar onde foram enforcados, em 1886, aqueles operários que o mundo inteiro saúda a cada primeiro de maio.

— Deve ser por aqui – me dizem. Mas ninguém sabe. Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago nem na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monolito, nem placa de bronze, nem nada.

O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos o primeiro de maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.

Após a inútil exploração de Heymarket, meus amigos me levam para conhecer a melhor livraria da cidade. E lá, por pura curiosidade, por pura casualidade, descubro um velho cartaz que está como que esperando por mim, metido entre muitos outros cartazes de música, rock e cinema.

O cartaz reproduz um provérbio da África: Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.

Crônica publicada originalmente em O Livro dos Abraços (Editora L&PM, 1989), de Eduardo Galeano (3/9/1940-13/4/2015). Direito de publicação cedido exclusivamente para esta edição.

 

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REAVIVAR! O Dia do Trabalhador é uma data conquistada pela classe trabalhadora para rememorar suas lutas histórias e relembrar seus (suas) lutadores (as), denunciar manobras de retirada de direitos sociais e trabalhistas e reafirmar a luta pela transformação social.

CONSTRUIR A FORÇA! A data assume na atual conjuntura brasileira uma dramaticidade. Anos de luta e resistência estão sendo jogados nas gavetas do Congresso, sem expectativa de reversão. Muitos estão cansados e outros não acreditam na importância dos movimentos de militância.

UNIDADE E RESISTÊNCIA! Compreender que o trabalhador/trabalhador possui, ainda, um mínimo de dignidade nas relações de trabalho, é reconhecer que lá na história houve muita resistência e união da classe trabalhadora, que não aceitando ser explorada, foi à rua rebelar-se. No manifesto, conquistou o direito de apontar o dedo e dizer não a qualquer forma de opressão ou humilhação.

SOLIDARIEDADE DE CLASSE! Quanto tempo é necessário para se conquistar uma reivindicação? Muita negociação, mobilização, pressão e algumas greves. Movimento este construído com a participação de muitos, que agora precisam lutar pra provar que têm o Direto de Lutar! E de novo, muitos cansaram e outros perderam a capacidade de se incomodar, seja por ele ou pelo colega ao lado, que está sendo terceirizado, assediado, explorando, humilhado ou exonerado.

PRECISA-SE DE LUTADORES! O país precisa de pessoas que convulsionem a cada projeto de lei que desfigure o Estado de bem-estar social. O Brasil precisa do povo, do trabalhador privado, do público, do estudante, da dona de casa, do autônomo. A história da conquista e manutenção de direitos não foi feita por aqueles que não fizeram nada. Precisa-se de inconformados, de qualquer idade, sexo, raça, profissão. 

VIVA O PRIMEIRO DE MAIO!  Pela história, pelos que lutaram, pelos que acreditam na mudança e pelos que não desistiram, o SINJUSC, em nome de seus mais de 4 mil filiados em todo o Estado, saúda este dia a todos (as) que resistem e lutam por valorização e dignidade e, não apenas, por símbolos monetários. Mais do que saudar a data, é preciso aplaudir que construiu as narrativas. O Primeiro de maio foi, e será um guia para as lutas de ontem e de manhã e ele deve ser uma mensagem de resistência contra qualquer retirada de direito!

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