A secratária-geral do SINJUSC, Ellen Caroline Pereira, fez a mediação da Mesa na quinta, 29 de agosto.

Se tenho plano de saúde privado, por que devo me preocupar com o SUS?

Durante a pandemia, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho registrou aumento expressivo de mortes entre frentistas, motoristas de ônibus, vigilantes, caixas de supermercados e enfermeiros. Todos serviços considerados essenciais cujos profissionais foram obrigados a se expor mais à contaminação por Covid-19 que o restante da população. Contudo, quando as vacinas chegaram, apenas profissionais da saúde tiveram prioridade. 

De acordo com Ronaldo Teodoro, pesquisador do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ), isso aconteceu porque os hospitais públicos que receberam pessoas infectadas por Covid-19 durante a pandemia não registraram a ocupação laboral dos pacientes.

O registro da rotina de trabalho dos pacientes é informação importante para que os epidemiologistas possam identificar e assim encontrar meios de prevenir mais contágios, além da aplicação eficaz e estratégica de políticas públicas, como foi o caso da vacinação na pandemia.

Ronaldo acredita que isso aconteceu porque nas últimas décadas, parte considerável dos trabalhadores e das trabalhadoras, sobretudo das categorias mais organizadas sindicalmente, voltaram suas energias para a luta por planos de saúde privados, secundarizando e até abandonando a luta sanitarista e a compreensão de que a saúde é um bem coletivo ou não é, como ficou demonstrado por meio da pandemia.

Da esquerda para a direita: Francisco, Ronaldo, Márcio e Ellen.

PROTAGONISMO DA CLASSE TRABALHADORA E A EXPERIÊNCIA VENEZUELANA

O debate “Você que lute: trabalhando junto e sofrendo sozinho” do Seminário internacional Por Um Fio, contou ainda com a participação de Francisco Gonzáles da Associação Latino Americana de Medicina Social (Alames) que trouxe a experiência dos chamados Delegados de Prevenção, política pública de saúde do trabalhador instituída pela Constituição Venezuelana.

Na Venezuela, a fiscalização da salubridade e segurança nos locais de trabalho é uma responsabilidade compartilhada entre os órgãos do governo e os trabalhadores e trabalhadores dos setores privado e público por meio dos Delegados e Delegadas de Prevenção escolhidos entre os empregados. Para o venezuelano, “o protagonismo da classe trabalhadora é o único caminho para o trabalho digno, salubre e seguro”.

Ainda de acordo com González, a grande maioria das mortes em decorrência do trabalho no mundo inteiro estão ligadas a enfermidades ocupacionais, mas as empresas se preocupam mais com os acidentes de trabalho. Isso acontece porque os acidentes, muitas vezes, são acompanhados de prejuízos financeiros para os empresários como interrupção de obras para investigação policial, destruição de maquinário e etc.

“NUNCA ESTIVEMOS TÃO ESTRANHOS E TÃO ALIENADOS”

O terceiro palestrante do debate organizado pelo Fazendo Escola em parceria com a Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET) e a Laboratório de Sociologia do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (Lastro-UFSC), Márcio Farias (PUC-SP) disse que “nunca estivemos tão estranhados e tão alienados”.

Ao recuperar o conceito Marxista de alienação, Márcio trouxe o exemplo da disputa pelos lugares no trem a caminho do trabalho. Cansadas da dupla, às vezes tripla jornada, em casa e no trabalho, mães solo disputam lugares sentados na condução para dormir um pouco mais. O professor da PUC acredita que ao não se reconhecer em outras pessoas, pois o capitalismo nos instiga a enxergar o outro como um potencial oponente, a classe trabalhadora se enfraquece na responsabilidade de agente da mudança social.

Márcio acredita ainda que a classe trabalhadora no Brasil não pode mais negar a questão racial e de gênero, afinal, a escravização foi a “relação de trabalho” vigente por cerca de 400 dos últimos 500 anos no país. Assim, o professor alerta para o fato de que é necessário recuperar Malcolm X e lutar “por todos os meios necessários”, mas que para tanto é preciso superar o discurso da classe trabalhadora dos anos de 1970 e 1980, para criar “utopias concretas do século XXI”.

“POR UM FIO” VAI ATÉ SÁBADO, DIA 31 DE AGOSTO

Giuseppe Macena, coordenador-geral do Sindjud-PE, intercala poesias entre os anúncios dos convidados que fazem parte das mesas do Seminário Internacional Por Um Fio

Na quinta, 29 de agosto, um pouco antes do debate, a mesa de abertura do Por Um Fio que acontece no Espaço Físico Integrado (EFI) da UFSC até sábado, dia 31 de agosto, contou com a participação de Neto Puerta (Fazendo Escola), Thaís de Souza Lapa (ABET) e Mateus Bender (Lastro-Ufsc), Jacques Mick (UFSC), Fátima Sueli Ribeiro (Alames), Tania D’andrea (Sintraju-CABA) e Silvia Rubeo (Judiciales de Santa Fé).

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