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Artigo|Pandemia e definhamento: novas categorias de sofrimento psíquico

*Rossano Lopes Bastos e Matheus Graoske Mendes

A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar.

Jacques Lacan

Aos poucos a pandemia foi adicionando um lugar comum a quase todos nós, um sentimento indecifrável que perturbava o bem-estar, difícil de nomear. O começo de tudo aponta para várias direções e identificamos nossa incapacidade de capturar todos os nuances que estão, estavam e estarão em jogo.

Aos poucos fomos buscando entender melhor e mais o que nos ocorria. Já é consensual entre os psicólogos há algum tempo que uma das maneiras mais eficazes de controlar nossas emoções é nomeá-las.  Os sintomas mais comuns passam por uma dificuldade de se concentrar e vai evoluindo para uma estagnação. Não se define como uma exaustão, uma vez que ainda tínhamos energia. Não atendia aos sintomas clássicos da depressão – não nos sentíamos desesperados.

Nós apenas nos sentimos um pouco sem alegria e sem objetivo. Uma espécie de enfraquecimento e uma sensação de estagnação e vazio. Um lugar de paralisia, onde não quebra nada, não rompe nada, é sem culpados, pelo menos em princípio.

O problema é que no estado de definhamento surge uma paralisia que é incapaz de se mover em direção a ajuda necessária para romper com este estado psicológico, o que acarreta um mergulho em outras categorias de sofrimento que podem levar a estados graves e até mesmo a morte. 

Acontece que há um nome para isso: DEFINHAR, como definiu o psicólogo Adam Grant em seu artigo no New York Times em maio de 2021.

Enquanto cientistas e médicos trabalham para tratar e curar os sintomas físicos da Covid19, muitas pessoas lutam com a longa duração emocional da pandemia. Alguns de nós ficaram despreparados quando o medo intenso e a dor do ano passado se dissiparam.

Nos primeiros dias incertos da pandemia, é provável que o sistema de detecção de ameaças do seu cérebro – chamado amígdala – estivesse em alerta máximo para lutar ou fugir. Como você aprendeu que as máscaras ajudam a nos proteger – mas a limpeza de pacotes não – você provavelmente desenvolveu rotinas que aliviaram sua sensação de medo. Mas a pandemia se arrastou e o estado agudo de angústia deu lugar a uma condição crônica de definhar.

O que é certo, que nunca mais seremos os mesmos na pandemia e pós-pandemia. Os danos físicos, emocionais e psicológicos de longo e largo espectro ainda carecem de ser nomeados e estudados.

A depressão é o vale do mal-estar: você se sente desanimado, esgotado e sem valor. Acompanhado a isso, os sintomas de falta de prazer com a vida.

O termo DEFINHAMENTO foi cunhado por um sociólogo chamado Corey Keyes, que ficou surpreso ao ver que muitas pessoas que não estavam deprimidas também não estavam felizes ou em contentamento. Sua pesquisa sugere que as pessoas com maior probabilidade de sofrer de depressão grave e transtornos de ansiedade na próxima década não são aquelas com esses sintomas hoje. Eles são as pessoas que estão definhando agora. E novas evidências de profissionais de saúde pandêmicos na Itália mostram que aqueles que estavam sofrendo na primavera de 2020 tinham três vezes mais probabilidade do que seus pares de serem diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático.

O que podemos pensar, especialmente no findado setembro amarelo, é que novas categorias de sofrimento foram agregadas com o advento da pandemia e suas consequentes mudanças no mundo do trabalho e da organização social adicionaram um componente de insegurança maior e mais complicado na vida das pessoas.

*Rossano é assessor do SINJUSC e livre docente em arqueologia brasileira; Mateus é psicólogo e também assessor do SINJUSC

Um comentário

  1. Muito bem colocado o conceito de ansiedade nesta leitura acima.
    Senti tudo isso no final do ano de 2020 e foi horrível até saber o que estava acontecendo comigo… essa angustia e panico esse vazio … uma interminável sensação de desaparecimento físico e mental … peito prestes a romper ….
    Hoje graças a Deus e a varias terapias e minha imensa fé estou superando!!!!

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