Mulher trabalha em casa durante a pandemia do coronavírus. ENRIC FONTCUBERTA (EFE)

O ‘home office’ pode acabar com a inteligência coletiva?

Além de socializar e adquirir consciência de classe, compartilhar espaço físico em uma empresa ajuda a produzir conhecimento.

SERGIO C. FANJULEL PAIS – JORNAL

Ninguém é uma ilha, escreveu o poeta John Donne. A vida do ser humano é condicionada pelo pertencimento a grupos: os primários, com função emocional, como família e amigos, e os secundários, voltados para uma meta, como colegas de trabalho. No local de trabalho as pessoas se socializam, colaboram produzindo inteligência coletiva, aprendem umas com as outras por meio do aprendizado social, competem umas com as outras e adquirem consciência de classe.

No último ano, a pandemia ampliou os treinamentos e trabalhos a distância, o que pode contribuir para a atomização e também evidenciar os prós e os contras de uma sociedade fisicamente dispersa, mas tecnologicamente conectada. É importante conhecê-los para enfrentar o futuro pós-pandêmico.

Na inteligência coletiva (IC), que é gerada em grupos de pessoas que colaboram, três fatores importam, segundo o especialista Amalio Rey, diretor da empresa de inovação eMOTools: o grupo, a inteligência gerada e a agregação (a forma em que as pessoas se reúnem para articular essa inteligência). Com o home office, o grupo pode ser mais diversificado, conectando pessoas geograficamente dispersas que não trabalham juntas com muita frequência, explica Rey.

Para quem organiza equipes, ou seja, gerencia essa IC, o teletrabalho pode trazer alguns problemas e tornar necessárias novas soluções. No caso de Sole Marcos, responsável por sistemas e suporte em uma empresa de desenvolvimento de software, o teletrabalho em tempo integral é complementado por reuniões em horários fixos e com maior frequência. Se possível, por videoconferência, para que os funcionários vejam os rostos uns dos outros.

Ela ganhou concentração desde que trabalha em casa: “Quando alguém tem uma dúvida, antes de levantar a cabeça do computador e perguntar, tenta resolver sozinho. Há menos interrupções”. Os membros da sua equipe participam de todas as reuniões para acompanhar o progresso dos colegas. E o departamento de recursos humanos organiza atividades e competições para manter a coesão do grupo.

PESQUISA DO SINJUSC| O seu ritmo de trabalho ficou mais acelerado no home office?

O efeito do teletrabalho na agregação, o segundo fator na IC, é complexo. Por um lado, um teletrabalho bem pensado, com ferramentas e um design adequado, pode permitir que sejam feitas coisas em conjunto que não são feitas pessoalmente, sobretudo quando os grupos são grandes, diz Rey, que está preparando um livro sobre o assunto.

Existem ferramentas e aplicativos tecnológicos que permitem “estruturar a conversa” de forma bastante eficaz. “Eles introduzem uma ordem que às vezes não é seguida presencialmente”, diz o especialista, “porque a agregação tende a ser mais informal e espontânea, já que o contato direto permite. Mas, por outro lado, se não for bem pensado, faz com que se percam muitas possibilidades que ocorrem no contato pessoal.”

Esse artigo foi publicado pelo Jornal El País, veja aqui a matéria completa.

Um comentário

  1. Já tenho quarenta anos em diante que trabalho de carteira assinada estou esperando a muito tempo por solução desse processo.

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