Nós, mulheres do Coletivo Valente, viemos por meio dessa carta manifestar nossa solidariedade e carinho pelos familiares e amigos da professora Elenir de Siqueira Fontão, vítima de feminicídio nesta quarta-feira (19/02), em nosso Estado. Nosso sentimento é de muita tristeza e indignação diante tamanha violência perpetrada pelo machismo que consumia aquele homem.
Vimos, mais uma vez, os valores masculinos tóxicos sendo reproduzidos. O sistema opressor que deseja um corpo submisso e o silenciamento total das mulheres, bate novamente à nossa porta. A Elenir estava inserida, como nós, nesse sistema de injustiças, era uma trabalhadora, uma mulher cheia de sonhos. Após acompanhar o noticiário, perplexas e introvertidas, tentando de alguma maneira digerir as informações, conseguimos imaginar a Elenir antes da morte.
Pensamos que ela estava em um momento importante profissionalmente, porque havia assumido em janeiro a diretoria da escola em que trabalhava, pensamos que, como era fim de tarde, ela estava cansada de mais um dia exaustivo e que, chegando em casa, tinha toda a limpeza pra fazer, que antes de dormir ela tinha umas mensagens no whatsapp pendentes de resposta, e que, por fim, estava cansada de escutar o ex-namorado.
A vida para nós mulheres é reivindicação. Somos nós que precisamos demandar pelo direito de voto participando de manifestações, somos nós que marchamos pelo direito de frequentar a universidade, somos nós que sofremos chantagem quando dissemos não ao ato sexual, somos nós que abrigamos amigas ou parentes que apanharam do companheiro.
A árdua batalha da Elenir foi interrompida. Mais uma morte para envergonhar nosso Estado, para calar machões que disseminam a violência, para nos conscientizarmos o quanto o capitalismo nos abate através do patriarcado, privilegiando os homens e colocando mulheres às margens.
Comece hoje essa reflexão. Inicie por você. Não aceite essa morte. Conte aos seus filhos porque isso ocorreu e vem ocorrendo com tanta frequência em nosso Estado. Abra o jogo com eles! Fale abertamente no trabalho do quanto você ficou tomada de tristeza com essa morte, e que isso não pode se repetir. Marque um café com aquele amiga que precisa de mais atenção, que o namorado é ciumento.
Meta a colher!
Fale!
Não se conforme!
Exponha um deputado machista ao ridículo. Não esqueça nenhuma agressão por nós sofrida. Use a camiseta da Marielle. Marche no 8M e chame suas amigas para passar o Dia das Mulheres exclusivamente entre mulheres. Que essa violência não nos paralise, não reduza nossa luta, que caminhemos abatidas mas juntas, e possamos tomar ar nessa asfixia social que vivemos.
Elenir, presente!
Coletivo Valente