“Não quero ser expulso do Tribunal!”

Muitos e muitos anos de serviço prestados dentro do Tribunal de Justiça. Do tempo que o telex era uma inovação, de quando o fax era o que havia de mais moderno, de quando a ligação externa passava sempre pela telefonista, é deste tempo que estamos falando. Ao ser descoberta uma doença grave e incapacitante próximo do final da carreira, a comunicação de uma aposentadoria por invalidez deve ser humanizada, pois enquanto trabalhadores temos uma identidade com nosso serviço. 

Não é incomum encontrarmos colegas que não queiram se aposentar, ou tenham dificuldades de entender a chegada deste período. Isso é comum, pois, com o passar do tempo, a vida pessoal e profissional se confundem, afinal de contas elas estão interligadas. Assim, deve ser feito um “processo” de afastamento, de desligamento, de “desintoxicação” do judiciário no momento da aposentadoria (por invalidez ou tempo de serviço). As reações a estes processos variam: alguns ficam felizes em ver que esse tempo está chegando, outros, contudo, precisam de ajuda para entender tudo isso. Não basta um encontro formal de pré-aposentadoria (disponível a poucas pessoas). A humanização e a sensibilidade às necessidades de cada trabalhador deve acompanhar todas as etapas que antecedem a aposentadoria, das idas à junta médica até o último dia de trabalho. 

Algumas vezes somos chamados para tratar do assunto. Principalmente quando o processo é traumático, não pelo trabalhador, mas na forma como a informação da invalidez ou da aposentadoria compulsória é feita. O encaminhamento desumanizado, normalmente é aquele burocratizado e estandardizado: as pessoas não são iguais, muito menos reagem a aposentadoria de maneira padrão. A falta de tempo ou volume de serviço não pode servir de “escudo”. Neste momento, é necessário enxergar o ser humano e toda sua complexidades. Só por isso é importante nos tratarmos com o carinho que merecemos enquanto pessoas.

Cada dia mais o judiciário vem se desumanizando, buscando a “justiça em números”, tentando atingir metas, tentando esvaziar escaninhos. Não somos mera “fábrica de decisões”, não fabricamos nenhum produto. A visão privada num serviço público promove o “massacre” do ser-humano, ou o seu desprezo. As peculiaridades tornam-se desnecessárias ao judiciário, pois para eles, devemos agir como robôs e apenas apertar botões. Somos muito mais do que isso, é bom afirmar. Somos seres humanos e no momento de nossa maior fragilidade, no momento em que mais precisamos de ajuda, carinho e compreensão temos que ter ao lado outro ser humano, nos ajudando a superar nossas dificuldades.

O SINJUSC está ao lado dos trabalhadores. Desde o momento do concurso até o momento pós-aposentadoria. Não deixaremos ninguém pelo caminho, por mais difícil que seja a tarefa. A igual consideração pelo destino das pessoas é um valor importante a ser observado. Queremos ter o direito, como todos, de sair do judiciário pela porta pela qual entramos, de cabeça erguida, com sentimento de dever cumprido, e não com o sentimento de expulsão. 

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