Parte 2| Masculinidades: Multiplas?

Por Rossano Bastos

Neste segundo texto sobre as masculinidades múltiplas, vamos abordar outras categorias de masculinidades. O Primeiro artigo pode ser lido aqui.

Uma outra masculinidade que vale a pena abordar é a masculinidade frágil, que é uma condição que afeta alguns homens heterossexuais e que provoca um esforço descomedido, da parte deles, para se provarem para a sociedade como verdadeiros machos-alfa.

O homem com masculinidade frágil tem horror à ideia de ter sua orientação sexual contestada, assim como de demonstrar qualquer tipo de vulnerabilidade. Outro dos sintomas da masculinidade frágil é pensar que tudo no mundo gira ao seu redor. Por incrível que pareça, essa suposição é falsa. A masculinidade frágil esta assentada sobretudo no medo, no temor de não reconhecimento por parte de outros machos-alfa, ou masculinidades  tóxicas que exigem um comportamento baseado na violência herdada do patriarcado.

Na sequencia as Masculinidades negras, trazem um outro estatuto para a discussão.

Se a branquitude consegue criar imagens visuais que aproximam a mulher negra, como a “babá”, “doméstica”, a nós, homens negros, fica uma imagem “de bandido”, “violento”. Até entre os grupos de esquerda temos dificuldade de sermos aceitos, quantas referências de homens negros vivos nesse segmento você conhece? Desafio a completar os dedos de uma mão. Gostaria de  colocar neste texto  uma abordagem espinhosa e inconveniente para muitos homens e mulheres.  Em 6 de junho 2019, o Jornal Carta capital abordou a temática sobre a masculinidade negra onde problematizou o assunto. Bigon & Teixeira (2019) trouxeram corajosamente algumas questões que gostaria de compartilhar:

“Não podemos reduzir toda essa experiência da masculinidade negra à palmitagem, esse não pode ser um bordão, ou frases de efeito, para explicar a complexidade da construção humana. Pois sim, nós homens negros também somos humanos, com toda sua profundidade, apesar de durante muito tempo não termos sido considerados ou construídos para isso… Nós ainda somos ligados a imagem de quem rouba seu carro, sua bolsa e seu celular. Nós ainda somos os primeiros a serem condenados sem provas quando alguém de militância é agredida ou roubado. O homem negro é inserido desde sua infância num contexto de guerrilha onde ele é a face do inimigo. Isso intensifica e amplia as possibilidades desse homem adquirir atitudes e expressões violentas de sua masculinidade e virilidade. “

Sendo assim, a discussão da masculinidades passa principalmente pelo questão: Que masculinidades estamos falando ?

O mundo, desde a Europa, no seu discurso iluminista, colonial e conquistador foi formado para pensar no “homem, mas que homem? O homem branco, nós homens negros, não éramos nem visto como seres humanos, fomos animalizados, escravizados para suprir a mão de obra para erguer novos reinos. Atualmente somos o grupo social que mais morre no Brasil. E, morremos de todos os jeitos, mas o que importa observar, é que estes jeitos todos ou quase todos são um espectro do genocídio, desde os homicídios, a fome, a ausência de atendimento médico-hospitalar.

Não existe um modo de falar de masculinidades negras sem falar no genocídio que impera neste país:

“ Além de estarmos sendo mortos, executados e rotulados como os inimigos públicos do Estado. São as mulheres negras, como nossas mães, irmãs, tias, avós e companheiras que reivindicam nossa vida com um grito ancestral de reivindicação da humanidade que nos foi negada. “

A grande questão é que temos um modelo de  “masculinidade tóxica”, que não foi feita para homens negros, mas é absorvida por nós, sem que gozemos dos privilégios e no fim, estamos morrendo e trabalhando exaustivamente, sem tempo para refletirmos e construirmos nossa sexualidade e afetividade. Isso configura um tipo de desarranjo da nossa personalidade, das nossas infâncias, das nossas experiências enquanto jovens negros. Não estranhamente, todo bairro de periferia tem um homem negro mentalmente desequilibrado, alcoólatra ou dependente químico jogado pelas ruas. Isso não é por acaso, é um projeto de extermínio que vai desde a anulação das nossas mínimas possibilidades de subsistência econômica até o aterramento das nossas subjetividades.

Diante  de tantos conceitos ainda a explorar vimos trazer estes conceitos e temas para abrir esta discussão tão necessário e tão negligenciada. Como nos dizeres de Paul Preciado (2019) que afirma com razão que : “eu me dei conta de que, quando socialmente você não percebe a violência, é porque a exerce.”

Glossário: Palmitagem: Palmitar e suas derivações “palmitagem”, “palmiteiro”, “palmiteira” são neologismos criados para interpretar o ato de uma pessoa negra se envolver de forma romântica com uma pessoa branca. Leia mais sobre aqui.

 

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