Por Rossano Bastos
Localizar a masculinidade num país como o Brasil, onde o primado da casa grande, escravocrata, lançou, desenvolveu e perpetuou até os dias de hoje, um dos mais perversos patriarcados, é uma tarefa multifacetada.
Patriarcado é um sistema social em que homens adultos mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai (ou figura paterna) mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças.
Embora pareça simples, a temática que se impõe pressupõe sempre uma crítica e autocritica quase que imediatas, pois, em principio, a organização social vigente corrobora, afirma e reafirma a todo instante o patriarcado. E dentro deste patriarcado, impõe uma agenda e um comportamento sobre o que significa ser homem, derivando deste paradigma diversas masculinidades.
No Brasil de viés escravocrata, uma sociedade patriarcal, tem contornos racista, machista, misógina, conservadora, homofóbica, LGTBQfóbica. O tema é provocante e enseja muitas nuances. Autores que tratam desta masculinidade ligada ao patriarcado trazem a complexidade que é sua construção histórica.
Por outro lado, existe vários movimentos de enfrentamento ao patriarcado e ao machismo que tem recebido críticas das mais diversas correntes que estudam o assunto.
O problema é que alguns dos discursos de resistência, como o feminismo liberal, transformaram-se em dispositivos de controle patriarcal e colonial, em discursos de opressão racista, lesbifóbica e transfóbica (Paul Preciado).
Então a proposta aqui é colocar a dimensão da temática masculinidade, que é diversa, rica, ampla, e precisa ainda de muito debate e aprofundamento, especialmente no Brasil.
Podemos elencar alguns conceitos que vem sendo discutido no mundo sobre a masculinidades e seus roteiros e agendas de debate. Desta forma, neste momento gostaríamos de fazer um breve chamado a alguns conceitos que nos parecem interessantes colocar para o nosso público na perspectiva de realizar um discurso e um debate em que todos e todas possam se sentir contemplados para compreender o que esta sendo dito.
Masculinidades são processos de configurações da prática que não devem ser vistas como equivalentes de homem, pois masculinidades são processos e não grupos de pessoas. Masculinidades são também lugares de privilégio que fazem com que a maioria dos homens recebam dividendos patriarcais com base em uma dita subordinação geral das mulheres.
A escolha não é hierárquica e nem tem um viés de mérito, apenas traduz uma inquietação em torno de esclarecimento de alguns conceitos. Aqui abordaremos os dois primeiros subtemas que pretendemos abordar.
O que é masculinidade hegemônica, tóxica.
1- Masculinidade hegemônica: Connell&Messerschmidt(2013) que vem trazendo um debate sobre as origens do termo e conceito de masculinidade hegemônica asseguram que foi primeiro proposto em relatórios de um estudo de campo sobre desigualdade social nas escolas australianas; em uma discussão conceitual relacionada à construção das masculinidades e à experiência dos corpos de homens; e em um debate sobre o papel dos homens na política sindical australiana.
2- Masculinidade tóxica: segundo centenas de artigos publicados, a “Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido.
Num mundo majoritariamente conduzido por homens, e suas masculinidades, as poucas mulheres que estão em posições de poder acabam agindo com valores masculinos a maior parte do tempo. Mas não sempre. Se hoje o coronavírus exige da humanidade mudanças, mais mulheres conscientes em posições de poder, seja a mais simples de ser feita, e capaz de produzir efeitos que a gente precisa pra lidar com esse mundo novo que vai se revelar pra gente nos próximos meses e anos.
Aqui oferecemos estas indagações e conceitos para abrir esta temática tão necessária para o debate. A partir daqui oferecemos uma discussão sobre os diversos subtemas que analisam a questão. O próximo texto abordará masculinidades frágeis e negras.
Rossano Bastos é Arqueólogo, Mestre em Geografia(UFSC), Doutor em Arqueologia Brasileira(USP), Livre docente em Arqueologia Brasileira(USP), Pós-Doutor em materiais e Cultura(Portugal), Professor, estudioso de psicanálise.
Excelente texto que nos convida as reflexões, discussões, mudanças, construções, desconstruções e reconstruções de pensar e agir das masculinidades em prol de uma sociedade mais igualitária, justa, honesta, com respeito a todas, todos e todes.
Maravilha. Um punhado de semente na consciência colrtiva. O homem que se julga maior e melhor que a mulher, esqueceu que este forte homem foi gerado no útero dessa mulher inferior