Foto: Bianca Taranti

Encontro de Mulheres reforça a necessidade de ampliar lutas interseccionais

As mulheres dos judiciários de todo o país estiveram reunidas no último final de semana para debater, propor e catalisar lutas. Racismo, machismo, capacitismo e luta pelo direito à terra foram alguns dos temas do 5º Encontro de Mulheres do Judiciário Catarinense e o 2º Encontro de Mulheres da Fenajud, realizado nos dias 29 e 30 de setembro, em Florianópolis.

A palestra de abertura na noite de sexta-feira (29) foi proferida por Anita Leocadia Prestes, figura de importância histórica para o Brasil; filha dos revolucionários Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e a alemã Olga Benario Prestes, nasceu numa prisão de mulheres na Alemanha nazista, onde a mãe foi executada. Com uma carreira dedicada à preservação da memória de luta de sua família, Anita preside o Instituto Luiz Carlos Prestes, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense e professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ.

Em sua fala, com o título “A luta nos movimenta para viver: memórias de resistência”, contou sobre a caminhada combativa das mulheres de sua família. “É importante conhecer a história das mulheres que combateram no Brasil”, ressaltou Anita, que compartilhou recordações que remontam à atuação de sua bisavó, Ermelinda, na defesa de Luiz Carlos Prestes durante o período em que esteve preso e sem comunicação com a família, escrevendo cartas às autoridades brasileiras da época.

A historiadora apontou diversos fatos relatados em suas obras, fruto de décadas de pesquisas históricas para preservar a trajetória de seu pai e de sua família. Seus livros registram e mantém a memória de lutas e da resistência que inspiram revolucionários do mundo todo até hoje. Após sua apresentação, a pesquisadora ainda respondeu questionamentos das participantes do encontro, e concluiu salientando que espaços como o Encontro são fundamentais para “organizar a luta das mulheres”.

A palestra foi realizada de forma online transmitida pela conta do SINJUSC, no Youtube. Veja AQUI.

LANÇAMENTO DA 8ª EDIÇÃO DA REVISTA VALENTE|

Encerrando o dia de atividades, as integrantes do Coletivo das mulheres do judiciário catarinense (Valente) lançaram a 8ª edição da Revista Valente. O novo exemplar pode acessar acessado AQUI, mas também será enviada às comarcas para as trabalhadas filiadas ao SINJUSC. Tem vários artigos produzidos por trabalhadoras do judiciário catarinense, poemas, dicas culturais, muita formação e entrevista exclusiva com a primeira presidenta eleita do sindicato, Carolina Rodrigues Costa. A revista foi toda ilustrada por uma trabalhadora do TJSC, Heloísa Lazaretti Fernandes (@heloisalazaretti).

POEMA, MÚSICA E VERSOS|

Após o jantar, foi realizado um sarau com apresentação da cantora e poeta Tayá Versa (@tayaversa) e Jazz Borges (@jazzborges), com participações especiais.

No segundo dia de evento, as lutas das mulheres em diferentes espaços foram abordadas nas mesas temáticas, com espaço para debates e trocas entre as participantes. Na parte da manhã, a mesa “Resistimos e lutamos: somos trabalhadoras diversas” trouxe diferentes perspectivas sobre os desafios das mulheres, a partir de olhares de especialistas que abordaram como questões de gênero, classe, cor, deficiências e orientação sexual atravessam a vida e a luta das mulheres no curso da história e nos dias atuais, sobretudo no mundo do trabalho. Participaram deste mesa, Suzana Veiga (@suzanaveiga), Doutora em História pela UFPE; Manoela Veras Internacionalista (@manoelaveras) (da Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina) e mestranda em História Global (UFSC) e Anahí Guedes de Mello (@anahigm75) Antropóloga, doutora em antropologia social pela UFSC. É ativista surda lésbica membra do Mudiá – coletiva de visibilidade lésbica de Florianópolis e também da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL). A mediação foi feita Keilla Reis (@keillacreis), trabalhadora do TJPE.

Além de todas as adversidades cotidianas, somam-se ao machismo outras formas de preconceito, como o racismo, a homofobia e o capacitismo, o que potencializa o sofrimento e o desgaste das mulheres. As palestrantes mostraram como isso se dá em suas áreas de atuação e ressaltaram como é possível fazer o enfrentamento para resistir e combater esses mecanismos de opressão.

ABRAÇAR A DIVERSIDADE: A PLURALIDADE NOS FORTALECE|

À tarde, o painel “Lutamos e sonhamos: experiências e vivências de mulheres que se organizam” dividiu-se em dois eixos. O primeiro, “Mulheres em diferentes espaços de atuação”, trouxe a organização das mulheres dentro dos movimentos sociais. As experiências das lutas nos diferentes movimentos destacam o poder da coletividade no enfrentamento às desigualdades e na ampliação da presença e do protagonismo das mulheres em todos os espaços. Nas falas potentes das lideranças, o recado foi dado: a partir do compartilhamento de vivências para abraçar a diversidade das pautas das mulheres do campo, da cidade, das florestas e das águas, as mulheres se fortalecem para multiplicar as conquistas e avançar rumo a uma sociedade mais fraterna, justa e igualitária. Falaram nesta mesa: Adriane Canan (@adrianecanan), Militante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC); Helena Quilombola (@helenamartins1007 e @arqvimaPresidenta da ARQVIMA – Associação dos Remanescentes do Quilombo de Vidal Martins; Sully Santos (@sullyflor), negra, antirracista, anticapitalista e estudante de ciências políticas na Uninassau Recife e Ingrid Sateré Mawé  (@ingridsateremawe), mulher indígena semente da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA.

A segunda mesa abordou o tema a partir da ótica das mulheres que já atuam no movimento sindical. Dirigentes dos sindicatos do Poder Judiciário de diversos estados explanaram sobre os desafios e as necessárias condições para que as mulheres atuem na política sindical de maneira qualificada. Fica evidente que não basta apenas garantir paridade de número; é fundamental romper com a lógica do patriarcado na organização sindical, que ainda dificulta a presença ativa das mulheres nesses espaços. Nesta última mesa participar as lideranças sindicais: Andreia Ferreira (Sindijus-PR), Mariane Figueira (Sindjus – PE), Liliane Araújo (SINJUSC), Soraia Joselita Depin (SINJUSC) e Maria das Dores (Sinsjusto).

A plenária final foi construída após um momento de organização em grupos temáticos que debateram os eixos trazidos no encontro. A aprovação do manifesto lido pela presidenta do SINJUSC, Carolina Costa, com diversas reivindicações, marcou o encerramento das mesas, mas não do encontro, que ainda contou com intervenção artística de Tayá Versa e uma grande festa para celebrar a potência da luta das mulheres de ontem, de hoje e de amanhã. 

ENCAMINHAMENTOS|

Em plenária final foi aprovado o Manifesto de Florianópolis, com as principais decisões do Encontro como a recomendação para que a Fenajud tenha pelo menos 50% de coordenadoras mulheres e a consolidação do Coletivo de Mulheres da Federação, mas também, uma Moção de Apoio ao Quilombo Vidal Martins.

LUTA POR (RE) COSTURAR A COLETIVIDADE|

Durante o evento, as participantes participaram de uma atividade conduzida pela trabalhadora aposentado TJSC, Vera Lucia Correa Pra. Cada mulher presente ganho um pedaço de tecido para bordar sua luta, sonho, poema, música. Ao final do evento, cada pedacinho de sonho foi costurado a um grande painel de lutas!

Com informações do Sindjus-RS e fotografia de Bianca Taranti (@biancataranti). Para acessar as fotos do encontro, CLIQUE AQUI.

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