Editorial|É preciso dar sentido prático para visualizar a consciência de classe

As gratificações e a venda de férias e licenças têm se mostrado prejudiciais para a organização da nossa carreira e, também para a nossa saúde mental.

Os recursos de venda de férias e licenças privilegiam quem ganha mais. Quem tem 60 dias de férias por ano, goza 30 e faz uma poupança com os outros 30.

O montante de dinheiro que envolve estes pagamentos poderia garantir ganho real para todos os trabalhadores de uma maneira mais equitativa e permanente, continuada.  Com a venda de férias e as gratificações, nós ficamos a mercê de quem está no comando, e essa pessoa pode, ou não, reconhecer o trabalho que desenvolvemos.

A reforma da previdência propõe uma média de todas as nossas contribuições (100% para quem entrar no serviço público catarinense a partir de 1ª/01/21), todo o valor que a gente recebe com vendas de férias e licenças não vai contar nesta média. É um dinheiro que, cada vez mais, a gente precisa para dar conta dos gastos cotidianos, mas não vai ser considerado na época da nossa aposentadoria. Além disso, a reforma administrativa quer tirar a licença-prêmio, os triênios e as promoções por tempo de serviço. Assim, vamos vender o quê?

Saúde mental, depressão e capitalismo

As gratificações vão pelo mesmo caminho. A reforma da administrativa prevê a contratação massiva para cargos que hoje são exercidas por pessoas do quadro (como chefe de cartório, chefe de secretaria, distribuidor, TSI, contador). Nós vamos estar subordinados a pessoas sem a nossa experiência, sem conhecimento técnico, e que devem favores para ocupar o lugar no qual estão.

Salário, nós precisamos de salário e condições dignas de trabalho, que incluem estrutura material para exercer nossas atividades, respeito a jornada e direito ao desligamento, políticas de combate ao assédio moral e institucional, cuidado com a saúde mental. Estes devem ser nossos temas fundamentais, eles implicam na nossa vida e na vida das nossas famílias.

Tudo isso diz respeito a uma expressão que precisa ganhar sentido novamente: consciência de classe.

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Para saber a qual classe você pertence, entre outras formas, você pode responder a esta pergunta: Se você ficar alguns meses sem receber salário (podem ser mais ou menos meses), o que acontece com você e sua família?

A classe trabalhado é aquela que vive do seu trabalho. Aquela que trabalha e, em contrapartida, recebe uma remuneração. Isso seja para quem está na iniciativa pública ou privada.

Falamos isso porque a gente precisa quebrar a bolha e entender a gravidade da situação. Não é para gerar desespero ou desilusão. É para gerar força, companheirismo. É para gerar compreensão, discernimento e lucidez. 

A tomada de consciência (de classe) e a aposta na coletividade não vai deixar a vida mais pesada, pelo contrário. O conforto, o amor, o companheirismo, a alegria pela caminhada partilhada a gente encontra só no outro. E este sindicato é o espaço que nós temos para acolhida e para construir um projeto de mundo melhor.

E dizemos “mundo melhor” porque a melhora das nossas condições de trabalho e remuneração não dizem respeito somente a nós, mas sim a toda classe trabalhadora, que deve (ou deveria) ter as mesmas condições. E aqui temos, mais uma vez, uma representação da consciência de classe.

Enquanto direção sindical, não vamos baixar a cabeça, nem deixar de fazer a luta, mas para ter alguma vitória nós precisamos de cada um e de todos, que forma este conjunto de Trabalhadores e Trabalhadoras do poder judiciário de Santa Catarina.

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