Guedria Motta, jornalista
Aconteceu em Brusque, o Lançamento da 7ª edição da Revista Valente, durante o 4º Encontro de Mulheres do Judiciário Catarinense. Promovido pelo SINJUSC, em parceria com o Coletivo Valente, o evento reuniu quase 150 participantes pautando a representatividade política, durante a sexta-feira (16/09) e sábado (17/09).
A secretária geral do SINJUSC e coordenadora do Coletivo Valente, Carolina Rodrigues Costa, foi a responsável pela abertura do encontro, que chega após dois anos de pandemia. “Neste período criamos laços, envolvemos mais pessoas, fortalecemos nossa identidade e nos posicionamos mais politicamente. Este reencontro vem para reafirmar este novo caráter do Coletivo Valente, mais amplo e com mais pessoas ligadas às pautas feministas”, afirma.
Segundo ela, um dos propósitos do encontro é dialogar sobre um novo modelo de sindicato, que seja mais compatível à rotina das mulheres. “Enquanto SINJUSC, temos conseguido trilhar este caminho de reforçar o protagonismo da mulher nas decisões políticas. Queremos, também, influenciar outros sindicatos neste movimento. Alguns dizem que a mulher não tem interesse em participar quando, na verdade, não são criadas condições para isso”, alerta Carolina.
O sindicato que o Coletivo Valente sonha em construir ainda está conectado com a classe trabalhadora e acredita na transformação social, ao mesmo tempo em que não se exime da luta contra a opressão de mulheres, negros, LGBTQIA+, povos indígenas, moradores de rua, pessoas com deficiência, entre outras minorias, conforme explica Carolina. “O sindicato acolhe estas pautas porque entende que essa é a luta de toda a classe trabalhadora e um modelo para o futuro, no qual as mulheres não estão na retaguarda, mas ocupando também os lugares de poder”, detalha.
Revista Valente
Em sua 7ª edição, a Revista Valente traz uma série de reportagens e artigos que falam sobre a representatividade feminina no movimento sindical. Integrante do Conselho Editorial, a diretora do SINJUSC, Cristiane Müller, destaca que a publicação é um convite para que as mulheres participem mais ativamente dos projetos e ações desenvolvidos pela entidade.
“Pensamos em trazer o histórico da mulher nos sindicatos. Temos uma reportagem sobre a formação do SINJUSC, após a Constituição de 1988, com mulheres que participaram deste processo. Além disso, convidamos sindicalistas de outros Estados para contribuir com artigos, falando sobre suas experiências de luta junto à classe trabalhadora”, conta.
Entre cargos de diretoria executiva e no seu quadro de colaboradores, o SINJUSC já é formado por mais mulheres do que homens. Esta, no entanto, não é uma realidade em todo o país. “No sindicalismo primeiro a mulher tem que mostrar que existe e, depois, lutar para não ser silenciada. Muitos homens ainda pensam que nos dão espaço. Eles não entendem que este espaço também é nosso por direito”, adverte Cristiane.
Uma das autoras desta edição da Revista Valente é a coordenadora de Gênero, Etnia e Geracional da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados (Fenajud), Ana Carolina Martins Lôbo. Em seu artigo, ela apresenta uma breve pesquisa sobre a contribuição das mulheres no sindicalismo, desde a Revolução de 1917, na Rússia. “É uma produção de conhecimento das servidoras do judiciário, com algumas contribuições externas, mas que nasce dentro de um movimento feito por mulheres e para mulheres. Crescemos orientadas a permanecer quietas para evitar conflitos e hoje entendemos que o nosso dever é, justamente, ao contrário: falar sobre o que nos incomoda e ocupar espaços. Não vamos recuar. Vamos avançar cada vez mais”, garante Ana Carolina.
Ela cita que o judiciário nacional é composto em 59% por mulheres, mas este número ainda não se reflete no envolvimento e participação sindical. “Esta integração nos permite conhecer melhor a instituição na qual trabalhamos e nos traz consciência para a reivindicação de direitos. O sindicato contribui com a nossa formação, uma vez que oferece encontros e oportunidades de estudo. Ele também nos fortalece, não apenas de forma individual mas, principalmente, de modo coletivo”, atesta.
A coordenadora do Coletivo de Negros e Negras do Judiciário (SC), Ellen Caroline Pereira, também é uma das autoras da Revista Valente. Sua contribuição está em um artigo sobre a importância da luta antirracista, além da produção de uma poesia. “Conto um pouco da história de luta até aqui, reconhecendo as mulheres que vieram antes de nós. Ao mesmo tempo, incentivo a continuidade desta caminhada, para as mulheres que ainda virão. Devemos ter coragem de ocupar espaços porque temos entendimento para isso e não somos desqualificadas, como insistem em dizer. Mesmo na adversidade a mulher estuda, entende de economia, de política, de serviço público e deve ocupar lugar nestes debates”, enfatiza.
Ellen lança luz para um recorte ainda mais desafiador do que a opressão contra a mulher: a invisibilidade da mulher negra. “O que me faz acreditar no coletivo de mulheres feministas é que todas estão preocupadas com o fim do sexismo, da misoginia e engajadas com a luta antirracista”, reforça.
Representatividade feminina
A coordenadora geral da Fenajud, Arlete Rogoginski, que também é diretora administrativa do Sindijus (PR), é uma das convidadas do 4º Encontro de Mulheres do Judiciário Catarinense. Nesta primeira noite, ela conduziu a mesa de debate sobre representatividade feminina, ao lado da diretora do SINJUSC, Liliane Araújo, e da vereadora de Brusque, Marlina Oliveira.
“É um tema de extrema importância, porque a mulher foi educada, domesticada e doutrinada para ocupar espaços privados, sem se dar conta das consequências que isso traz para a sua vida. Nosso país é machista, racista, homofóbico e quem mais sofre são as mulheres, porque os homens não têm sensibilidade para defender e seguir em frente com as nossas pautas”, pontua Arlete.
Já a vereadora de Brusque, Marlina Oliveria, trouxe esperança ao debate, por representar uma mulher negra em um espaço de poder. “Estou feliz em acolher na minha cidade estas mulheres que representam diversidades. A mulher negra está na base da pirâmide social. Sabemos que as mulheres são subrepresentadas e esta lente aumenta mais quando falamos da mulher negra. Estou feliz com a pauta do encontro, que comprova o quanto estamos amadurecendo, evoluindo e nos comprometendo com a transformação social”, enfatiza.
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