Enquanto os trabalhadores brasileiros ainda lutavam para impedir as reformas trabalhista e agora a reforma da Previdência, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) fazia cumprir a centralização das informações da remuneração da magistratura em seu portal, quase seis anos depois da entrada em vigor da Lei do Acesso à Informação. Parece desequilibrado que o CNJ cobre, atrasado, apenas a transparência.
Num cenário de futuro sombrio para a maioria dos trabalhadores (contratos fragilizados, queda brusca nos salários, gigantesca massa de desempregados, contrato intermitente, o Estado se ausentando cada vez mais da segurança social), há quem critique setores da magistratura que defendem o incremento cada vez maior de ‘penduricalhos’ em seus vencimentos.
Assim como receber mais por extras – auxílio moradia, auxílio paletó, etc -, coisas jamais sonhadas pelos trabalhadores na hora de receber um direito, os juízes também levam vantagem. Um trabalhador geralmente terá que entrar na fila dos precatórios, enquanto um magistrado constantemente recebe seus atrasados diretamente em folha de pagamento.
Todos concordam que agentes do Estado, juízes, promotores, policiais, professores, médicos, enfim, todos em atividades públicas, ganhem bem. Mas não ao ponto de parecer que há uma sociedade de castas, com tratamentos diferenciados, em que aqueles que mantém o Estado, os trabalhadores, recebem salários quase miseráveis e precisem de dois empregos e se submetam jornadas de 12 horas, e sofram para se aposentar, quando conseguem, enquanto outros se aposentam com mais de R$ 30 mil mensais.
O Justiça em Números de 2016, lançado em setembro de 2017 pelo CNJ, é mais do que uma planilha com números. É um alerta da disparidade entre o povo e a cúpula do judiciário. Afinal, se em média no ano passado um juiz brasileiro recebeu R$ 47,7 mil ao mês – em Santa Catarina a média foi de R$ 57.623,00 -, o salário médio dos trabalhadores em 2016 não chegou a R$ 3 mil. Em janeiro de 2016, em cinco capitais foi registrado um salário médio de 2.227,50.