Mateus Graoske, psicólogo clínico há 10 anos, com formação em psicanálise e que coordena o projeto de saúde mental do SINUSC, é um debatedores confirmados para o 9º Congresso do SINJUSC, que ocorre agora em maio, dias 26, 27 e 28 de maio. Ele participa da mesa “Saúde: liberalismo e gestão do sofrimento psíquico e assédio“, no dia 26 de maio, a partir das 14h. Com exclusividade, o Núcleo de Comunicação do SINJUSC entrevistou a profissional. Confira:
Com base na experiência acumulada nos últimos quatro anos de trabalho junto ao SINJUSC e aos servidores, qual o principal fator gerador de assédio moral no judiciário catarinense? Por quê?
O principal fator que gera assédio moral no judiciário é a organização do trabalho extremamente verticalizada, autoritária e hierárquica, porque é a partir desta estrutura que o assédio moral entra como uma “ferramenta” que engendra as relações de trabalho.
O fato das metas serem uma política institucional isenta as chefias pelo assédio moral cometido? Por quê?
De forma alguma. Nenhum tipo de assédio deve ser justificado como reação individual involuntária. Chefias que cometem assédio moral geralmente sofrem assédio de seus superiores, porém, isso não tira a implicação de todos os atores envolvidos no assédio moral pois não se trata de um processo inconsciente ou involuntário. O assédio tem como principal objetivo o controle sobre os trabalhadores através do medo basicamente.
Como o SINJUSC tem atuado nos últimos anos para combater a violência moral no Judiciário Catarinense?
O SINJUSC a partir de 2018 iniciou uma campanha de “dar luz” ao tema da violência moral no trabalho com a divulgação de palestras em diversas comarcas, cartilhas e organização dos servidores com o tema. Hoje temos uma estrutura jurídico e psicológica de atendimento aos casos de violência moral no trabalho.
Como você vê a atuação do Conselho Nacional de Justiça em relação ao combate à violência moral no ambiente de trabalho?
Vejo de forma positiva, pois isso se dá por conta de ser um tema que atinge a todos e todas do poder judiciário. Ninguém está isento, nem mesmo a magistratura. Com este comitê espero que medidas de amplo alcance possam ser usadas para o combate às práticas assediadoras nos locais de trabalho.
Que impactos a violência moral no ambiente de trabalho pode ter na vida pessoal da vítima e como a família pode ajudar?
A violência moral no trabalho pode levar uma pessoa a desenvolver uma sério de transtornos psicológicos como ansiedade, depressão, pânico, fobias etc. Ainda mais em tempos de home office as famílias acabam participando de todo o processo de assédio e de adoecimento da vítima, que dentro do ambiente familiar poderá assumir comportamentos irritadiços, insônia e transtornos alimentares e de humor.
O assédio sexual também é uma realidade do judiciário catarinense. Como a instituição tem tratado o assunto e qual a proposta do SINJUSC em relação ao tema?
Tema de extrema relevância e que compõe uma das tantas formas de violência moral no trabalho. Em conjunto com as Valentes, nossa equipe de atendimento faz essa comunicação e debate a cerca do tema.
A política de enfrentamento adotada pelo SINJUSC fala em acolhimento, porque essa etapa é tão importante e o que vem depois dela?
O acolhimento é a primeira forma de receber uma vítima de assédio que muitas vezes sofre calada durante longos períodos do trabalho. Após isso vem a escuta clínica, o encaminhamento ou não para o setor jurídico bem como as Rodas de Conversas Integrativas.
O home office e o uso das tecnologias da informação e comunicação transformaram a forma como o assédio se manifesta? Se sim, como? Se não, por quê?
Transformaram as formas, mas não o conteúdo. Hoje se assedia em grupos de WhatsApp, e-mail, redes sociais, etc. Também forma essa que se acentuou durante a pandemia.