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[Artigo] Masculinidade, afetividade e a importância de grupos reflexivos para homens

Por Caio Cesar Santos

Homens precisam falar. É essa a constatação que esse texto busca passar.

E eu sei, homens falam. Desde sempre. Falam sobre tudo. O privilégio de gênero nos dá essa oportunidade, principalmente a homens brancos. Mas precisamos falar sobre nós e entre nós. Sobre emoções, medos, fraquezas e atitudes erradas. Principalmente atitudes erradas.

O debate sobre masculinidade, cada vez mais em pauta, trouxe aos homens (seja branco, megro, hétero, gay, cis, trans) a possibilidade de revelar seus medos inseguranças, questionamentos e propostas sobre novas maneiras de “ser homem” e as múltiplas possibilidades de exercer, de forma saudável, essas masculinidades. Toda construção tóxica do que se entende como ser um “homem de verdade” envolve, além de inúmeras questões, não falar sobre seus sentimentos.

E é nesse sentido que entra a importância dos grupos reflexivos.

Uma iniciativa importante que vem sendo feito no Rio de Janeiro é o grupo MEMOH, um projeto que visa debater, entre homens, questões ligadas as nossas múltiplas masculinidades, visando buscar novas formas de agir com o mundo, as mulheres, outros homens e consigo mesmo. Um espaço de troca, de acolhimento e, principalmente, reflexão.

Onde, embora não haja julgamento, exercícios de mudança de comportamento são o ponto-chave de todos os encontros.

A importância desses grupos reflexivos se dão por três motivos básicos:

1 – Homens entendem melhor outros homens;

2 – As mulheres não podem assumir a responsabilidade de nos “desconstruir”;

3 – Falar sobre sentimentos, entre homens, é algo transformados;

Quantas vezes, você, homem, se sentiu confortável para falar, entre seus amigos, os problemas emocionais, sexuais e/ou sentimentais que vinha passando? Quantos de nós mentimos sobre sermos ou não virgens ou sobre nossas performances sexuais? Quantos de nós apenas brigamos em algum momento somente pela pressão de não parecermos fracos perante outras pessoas? Quantos de nós já nos sentimos culpados inúmeras vezes por não sermos bons em qualquer esporte? Quantos de nós não falamos sobre o medo de sermos pais e não saber se vamos dar conta das responsabilidade?

E quantos de nós, ao acumular tudo isso, sem conseguir conversar com alguém, colocamos pra fora com raiva e dor?

Há inúmeras pesquisas que comprovam que homens são os principais atores da violência: os que mais cometem, os que mais sofrem e os que mais praticam o ato contra si próprio, E em contra partida, os que menos procuram ajuda psicológica, os que menos fazem terapia. Tudo isso fruto, mais uma vez, de uma construção de masculinidade ruim que, de certa forma, nos impõe que buscar ajuda e reconhecer que não consegue lidar com algumas coisas sozinho, nos torna menos homem.

Qualquer mudança social que se queira em relação ao que entendemos com um exercício saudável de masculinidades precisa passar, primeiramente, pela comunicação, pelo diálogo e pela construção de espaços saudáveis pra isso. Há uma série de barreiras sociais, culturais e históricas que impedem ou inibem que homens falem sobre aquilo que os afligem, numa busca impossível por uma “masculinidade perfeita”. Busca essa que traz consequências negativas para todos, principalmente mulheres, que acabam recebendo boa parte dessa violência. A própria Lei Maria da Penha propõe, além do suporte emocional para as mulheres vítimas de violência doméstica, grupos reflexivos de gênero para homens, a fim de reduzir (e tendo êxito) os índices de reincidência dessa violência.

Mais do que nunca, essas iniciativas precisam partir de homens. Um exercício honesto de autocrítica sobre a maneira que estamos exercendo nossa masculinidade desde que nascemos. Um exercício de busca por humanizar nossas relações sociais, nossos corpos e nossas emoções, e de que maneiras estamos colocando isso no mundo. Quebrar todas as barreiras que impedem de nos comunicar.

Homens, precisamos falar.

*Caio Cesar Santos é professor de Geografia, escritor, pesquisador e caseiro do Projeto MEMOH.

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