“A taxação dos super ricos é um assunto fundamental para ser debatido pelo G20”

À convite da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a presidenta do SINJUSC, Carolina Rodrigues Costa, participou da Labor 20 (L20) que aconteceu em Fortaleza nos dias 23 e 24 de julho. O evento reuniu sindicalistas das maiores economias do mundo para elaborar um relatório dos principais problemas enfrentados pelas trabalhadoras e trabalhadores das 20 nações.

O relatório da L20 já foi discutido por ministros e ministras do trabalho dos países participantes e incorporado a um novo documento – clique AQUI e baixe – que será enviado à reunião de Cúpula do G20 nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. G20 significa “Grupo dos Vinte” e reúne os países com as maiores economias do mundo. Os Estados-membros se encontram anualmente para discutir iniciativas econômicas, políticas e sociais.

Segue abaixo, uma entrevista curta com a presidenta do SINJUSC sobre a participação dela no L20, evento preparatório do G20.

Equipe de Comunicação do SINJUSC: Na sua opinião, qual o debate mais importante dessa edição do G20?

Carolina Rodrigues Costa: Existem empresas que lucram valores maiores que o PIB de muitos países. Então, a questão da acumulação e da desigualdade são centrais, são as primeiras coisas. Com o nível de desigualdade que a gente tem hoje no mundo, é muito difícil. Nesse sentido, a taxação dos super ricos é um assunto fundamental para ser debatido pelas lideranças do G20, mas para a gente enquanto sindicato também, pois é a acumulação que produz tanta miséria. Então, eu acho que eventos como o L20 e o G20 são fundamentais, porque tiram a gente dos problemas localizados apenas no nosso ambiente de trabalho, sabe? Fazer o um sindicalismo apenas corporativo pode garantir um salário um pouco melhor e alguns direitos para a nossa categoria, então, precisamos pensar também no filho da trabalhadora e do trabalhador do judiciários catarinense, dos nossos filiados e filiadas, que está exposto a exploração desenfreada, o neto deles, provavelmente, vai estar mais empobrecido, o vizinho e o irmão também. Então, além da luta por melhores salários e mais direitos para nós, temos uma tarefa muito importante com a nossa base que é dizer por que o discurso tem que ser amplo, por que a gente tem que falar em unidade da classe trabalhadora, por que a gente tem que combater a desigualdade social e por que a gente tem que falar que o capitalismo é uma porcaria. Se não, o jogo já está perdido.

ECS: Um outro ponto importante para o G20 parece ser a desigualdades acentuada pelo preconceito contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQIAPN+. Como você vê essa questão?

Carolina: A reprodução social recai sobre as mulheres e isso influencia diretamente na tarefa que ela executa no trabalho. E pode ser que ela até tenha que abrir mão de um cargo ou promoção, porque ela tem outras tarefas para executar que não recaem sobre os homens. Eu acho que isso é fundamental, porque essas tarefas que essas mulheres estão executando fora do trabalho, elas também têm relação com o serviço público. São tarefas de cuidado e estão vinculadas à proteção social. E com o desmanche da estrutura de serviço público pelo neoliberalismo, recai cada vez mais sobre as mulheres esse papel que deveria ser do Estado. No judiciário catarinense, por exemplo, muitas pessoas, quando elas falam que elas querem ir para o home office, uma grande parte delas, isso tem a ver com tarefas de proteção social. Eu consigo levar e trazer as filhas para a escola, porque eu não tenho uma escola integral, eu tenho que oferecer cuidado para alguém, eu tenho que levar de um lado para o outro. E talvez para ela conseguir aquele trabalho não presencial, ela vai ter que trabalhar mais, porque a meta vai ser maior, ou ela não vai ter acesso a um cargo de chefia. Com a questão da raça, eu acho que é mais evidente, porque o acesso ao concurso é mais dificultado. Então, se você chegar hoje no Fórum Eduardo Luz, por exemplo, as faxineiras vão ser todas mulheres negras e a porcentagem de pessoas negras no judiciário como um todo é pequena.

ECS: E qual o papel de sindicalistas que representam o setor público na construção de uma realidade mais digna para a classe trabalhadora?

Carolina: Eu diria que não é um papel de vanguarda, mas eu acho que nós podemos assumir papéis importantes para se criar isso de uma maneira coletiva. Para ajudar no processo de unificação das trabalhadoras e dos trabalhadores de uma maneira geral. O “servidor” tem a coisa da identidade, que eu acho que é importante, da identificação enquanto categoria. Uma coisa que vem esfacelando na iniciativa privada por causa da precarização das relações de trabalho, sobretudo, pelos aplicativos como Uber e Ifood. Então, as pessoas entram no serviço público que tem mais direitos e acabam ficando. Tem um espaço de tempo maior para gente trabalhar a consciência, tem uma rotatividade menor. Acho que tem coisas que a gente pode contribuir de maneira decisiva. Embora não seja um lugar de protagonista. Acho que o que a gente faz aqui com o Fórum Catarinense de Defesa do Serviço Público é importante. E me parece que o passo seguinte do Fórum é tentar estabelecer uma discussão mais ampla com outros setores da classe trabalhadora.

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